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Vamos falar sobre os desafios dos casais?

Sobre o casamento

“...
Amem um ao outro, mas não façam do amor uma amarra:
Deixem que seja um mar que se move às margens da alma.
Encham a taça um do outro, mas não bebam de uma só taça.
Deem um ao outro o pão, mas não comam da mesma fatia.
Cantem e dancem juntos com alegria, mas deixem que cada um viva só, em sua própria companhia,
Assim como as cordas do alaúde são únicas,
embora vibrem na mesma melodia.
Entreguem seu coração, mas não à posse um do outro.
Pois só a mão da Vida pode conter um coração.
E vivam juntos, mas não tão juntos,
Pois os pilares do templo foram feitos separados,
E o cipreste nunca cresce à sombra do carvalho.” (Gibran, pág. 28)


Como é que você aprendeu a amar? Já parou para pensar sobre isso e o quanto isso impacta os seus relacionamentos, sobretudo o seu relacionamento romântico? - que é o foco desse texto.

Saber isso nos ajuda a entender as demandas que colocamos em nossas relações. Você já deve ter ouvido a frase “não é o amor que sustenta o relacionamento, é o modo de se relacionar que sustenta o amor”. Pare um pouco e pense se isso faz sentido para você, e, se sim, qual o sentido.

Não, não. Desvie da ideia que acabou de passar pela sua cabeça de que isso tudo é uma bobagem. Siga em frente! Reflita. Pense no que isso diz de você. No que diz da sua forma de amar.

Era vidro e se quebrou”. Às vezes as pessoas entendem dessa forma. Será que o tempo de paixão em alta contribuiu para uma expectativa irrealista sobre a vida a dois?

No livro As Cinco Linguagens do Amor, encontramos o seguinte trecho: “Infelizmente, a eternidade da paixão é uma ficção e não um fato. A psicóloga Dorothy Tennov desenvolveu longos estudos sobre o fenômeno. Após estudar os comportamentos entre os casais, ela concluiu que o tempo médio de extensão da obsessão romântica é de dois anos. Se a paixão foi um fruto proibido, talvez dure um pouco mais. Eventualmente todos nós descemos das nuvens e pisamos com os pés em terra novamente. Nossos olhos abrem-se e passamos a enxergar as “verrugas” da outra pessoa. Descobrimos que alguns de seus traços de personalidade são realmente irritantes. Seus padrões de comportamento aborrecem-nos. Possuem também capacidade para machucar e irar-se, e utilizam também palavras duras e julgamentos críticos. Esses traços que não percebemos quando estávamos apaixonados, tornam-se agora, enormes montanhas. Então nos recordamos das palavras ditas por nossa mãe e perguntamos a nós mesmos: “Como pude ser tão tolo?”

Bem-vindos ao mundo real do casamento, onde fios de cabelo sempre estarão na pia e respingos brancos da pasta de dente sempre estarão no espelho; discussões ocorrem por causa do lado de colocar o papel higiênico: se a folha deve ser puxada por baixo ou por cima. E um mundo onde os sapatos não andam até o guarda-roupa e as gavetas não fecham sozinhas; os casacos não gostam de cabides e pés de meia somem quando vão para a máquina de lavar. Nesse mundo, um olhar pode machucar, uma palavra pode quebrar. Amantes podem tornar-se inimigos e o casamento um campo de batalha sem trégua.” (pág. 22)

É interessante que o relacionamento esteja bom para os dois, não é? E a terapia de casal é um excelente espaço para tratar da construção da conjugalidade. Não cabe a terapeuta de casais decidir sobre que questões o casal quer abordar, mas questionar esse casal sobre o funcionamento dessa relação para que eles consigam avaliar com quais pontos de melhoria desejam lidar.

Estimular que o membros do casal falem um para o outro é mais um ponto fundamental. Normalmente o casal para a terapia de casal num processo muito ruminativo e de constantes reclamações e acusações. Com pouca disposição de se olharem nos olhos e falar exatamente o que estão pensando e o que estão sentindo. O casamento se torna campo para um jogo completamente disfuncional, onde prospera o desrespeito ao ser do outro, ao ponto de vista que o outro tem sobre as coisas.

Reflita um pouco com a ajuda dessa música:

“Do ponto de vista da terra quem gira é o sol
Do ponto de vista da mãe todo filho é bonito
Do ponto de vista do ponto o círculo é infinito
Do ponto de vista do cego sirene é farol
Do ponto de vista do mar quem balança é a praia
Do ponto de vista da vida um dia é pouco
Guardado no bolso do louco
Há sempre um pedaço de Deus
Respeite meus pontos de vista
Que eu respeito os teus
Às vezes o ponto de vista tem certa miopia
Pois enxerga diferente do que a gente gostaria
Não é preciso por lente nem óculos de grau
Tampouco que exista somente
Um ponto de vista igual
O jeito é manter o respeito e ponto final
O jeito é manter o respeito e ponto final
Do ponto de vista da terra quem gira é o sol
Do ponto de vista da mãe todo filho é bonito
Do ponto de vista do ponto o círculo é infinito
Do ponto de vista do cego sirene é farol
Do ponto de vista do mar quem balança é a praia
Do ponto de vista da vida um dia é pouco
Guardado no bolso do louco
Há sempre um pedaço de Deus
Respeite meus pontos de vista
Que eu respeito os teus
Às vezes o ponto de vista tem certa miopia
Pois enxerga diferente do que a gente gostaria
Não é preciso por lente nem óculos de grau
Tampouco que exista somente
Um ponto de vista igual
O jeito é manter o respeito e ponto final
O jeito é manter o respeito e ponto final
O jeito é manter o respeito e ponto final
O jeito é manter o respeito e ponto final”

Música: Ponto de Vista, Grupo Casuarina
Compositores: Eduardo Lyra Krieger e João Cavalcanti


Assim como não cabe a terapeuta de casais decidir sobre os temas que o casal quer abordar, também não cabe abafar nenhuma crise – ao contrário, o ideal é usar a chance para ajudar o casal a enfrentar o desafio que pode ser uma chance de aprenderem mais sobre si mesmos e sobre o espaço conjugal. São experiências que podem trazer amadurecimento e tornarem a relação mais saudável e prazerosa para ambos.

No mais, a construção de um relacionamento acontece diariamente. O toque, o olhar, o carinho, o sexo, os sonhos, as conquistas, as dificuldades, as diferenças. Tudo isso exige muito tato e muita disposição para encontrar o ponto de equilíbrio. E aí é trabalhar para dar certo.

Pensando nisso, vale pontuar que nenhum casal - aliás, nenhuma pessoa - precisa esperar uma crise para iniciar a terapia. A psicóloga pode ser procurada quando perceberem que existem algumas diferenças ou mudanças na vida de um ou de outro que possam se tornar problemas. Algumas vezes as pessoas empobrecem a própria vida, reduz seus interesses e experiências e quando mudanças ocorrem, se veem perdidas, necessitadas de se reestruturarem.

A terapia de casal favorece que os parceiros se conheçam melhor, entendam seus problemas reais e busquem soluções de forma positiva e esperançosa para que cooperem entre si com boa vontade.

Cada casal é único, não existe receita mágica para resolver as demandas que eles trazem. O que oferecemos na terapia é uma parceria para lidar de forma produtiva com as demandas e situações trazidas.

Acredite: uma boa parte do nosso plano de vida foi feita com muita idealização. É preciso viver com a realidade. Construir bases sólidas em cima do real. Esse processo de rompimento com a idealização traz maturidade e pode levar a um relacionamento bastante prazeroso e feliz.

Há um outro ponto de desafio: a dependência emocional. Você já acreditou que o outro é responsável por preencher o seu vazio existencial? Seu foco se torna o outro, o bem-estar do outro. E você, se pudesse, se tornaria o ar que essa pessoa respira? É claro esse apego para você? Você reconhece os efeitos dele na sua autonomia?

Vale muito a pena ponderar sobre se o seu viés é singularidade ou fusão. O que quero fazer desse meu encontro com essa outra pessoa? O que eu desejo do amor?

Walter Riso, assim coloca: “A dependência afetiva é um vício. Depender da pessoa que se ama é uma maneira de se enterrar em vida, um ato de automutilação psicológica em que o amor-próprio, o auto-respeito e a nossa essência são oferecidos e presenteados irracionalmente. Quando a dependência está presente, entregar-se, mais do que um ato de carinho desinteressado e generoso, é uma forma de capitulação, uma rendição conduzida pelo medo com a finalidade de preservar as coisas boas que a relação oferece. Sob o disfarce de amor romântico, a pessoa dependente afetiva começa a sofrer uma despersonalização lenta e implacável até se transformar num anexo da pessoa “amada”, um simples apêndice. Quando a dependência é mútua, o enredo é funesto e tragicômico: se um espirra, o outro assoa o nariz. Ou, numa descrição igualmente doentia: se um sente frio, o outro coloca o casaco.” (pág. 12)

E o ciúme que mata a segurança? Temos consciência que cada um é único? Que continuamos sendo um, mesmo quando nos casamos? É essa consciência que torna mais desafiador já que vamos nos dando conta de que união não significa fusão.

Essa outra pessoa vai estar em lugares que você não estará, vai olhar para direções que você não olhará, vai admirar outras pessoas que não você... e você não tem controle de nada...

O ciúme pode ser algo também desafiador na vida do casal e a terapia de casal pode ser aqui também, um alternativa para melhorar a autoconfiança e aprender a lidar com o ciúme. Nem sempre a pessoa irá deixar de sentir mas, poderá administrar melhor o que sente ao ponto de não causar danos para si ou para o casal.

Esse é um sentimento em que muitas distorções cognitivas podem estar presentes e a pessoa que o sente começa a invadir a conta de e-mail, de aplicativos de mensagens, checar o tipo de reação que o outro ou a outra emitiu em publicações específicas nas redes sociais, verificar as roupas, as ligações, ficar na espreita para “provar” que o que passa pela cabeça dela tem base real.

Nem sempre é paranoia que se cria. Mas aqui estamos focando no ciúme sem base real. Quando o indivíduo sabe que não tem explicação ou justificativa no comportamento da outra pessoa que justifique o seu.

Na Terapia Cognitivo-Comportamental, identificamos as distorções cognitivas de cada sujeito para que eles possam ter uma percepção melhor de como seus pensamentos disfuncionais acabam gerando uma interpretação negativa dos fatos, ou seja, baseando-se em dados insuficientes pode-se tomar conclusões precipitadas de diversas situações e a terapia irá propiciar que se busque evidências para validar a percepção.

Quando os membros da relação passam a observar se os pensamentos sobre si mesmos e sobre o relacionamento têm base na realidade conseguem melhorar as suas habilidades em intervir ao perceberem que se trata de uma distorção e com isso melhoram a qualidade de suas emoções e portanto de sua comunicação.

“Uma vez que os cônjuges tenham aprendido a identificar acuradamente seus pensamentos automáticos, uma ênfase maior é colocada na ligação dos pensamentos a respostas emocionais. Isso é importante uma vez que está comprovado que, com muita frequência, os comportamentos impulsivos que criam danos ao relacionamento ocorrem como resultado das emoções carregadas. Além disso, os cônjuges, geralmente, classificarão certas experiências ou situações como sendo o resultado de serem “exatamente como e sinto”, ignorando qualquer responsabilidade por serem capazes de influenciar o modo como se sentem. Por exemplo, um marido afirmou que não conseguia ver utilidade em resolver seus problemas conjugais, porque, simplesmente, não sentia mais emoção pela esposa. Essa emoção pode estar ligada a certos pensamentos automáticos que explicam, provavelmente, porque seus sentimentos estão embotados.” (Dattilio e Padesky, páginas 56 e 57)

Tendo em vista os apontamentos acima, vale a pena entender um pouco mais do que chamamos de pensamentos automáticos em Terapia Cognitivo-Comportamental:

“Os pensamentos automáticos vêm sendo concebidos como ideias ou imagens que passam despercebidas e de forma muito rápida na mente das pessoas. Esses pensamentos por si sós não são adequados ou inadequados. Devido ao fato de esses tipos de pensamento não serem sempre racionalmente avaliados, eles tendem a ser aceitos como algo razoável, em situações específicas. Tem sido apontado que esse fluxo de ideias instantâneas, que pode passar na cabeça de um dos cônjuges, pode influenciar seus estados emocionais e suas ações negativamente. Por exemplo, quando uma esposa não recebe a atenção que gostaria de receber de seu marido, a respeito de um problema de trabalho, pode chegar à seguinte conclusão: “ele nunca me ouve”. Nessa situação, a parceira pode sentir raiva e gritar com seu companheiro, dizendo que ele é um imprestável (Dattilio et al., 1998).

Os pensamentos automáticos disfuncionais podem ser influenciados por distorções cognitivas. Estas seriam distorções sistemáticas no processamento da informação, falhas de interpretação e raciocínios desprovidos de lógica (Beck & Alford, 2000). A leitura mental, por exemplo, é um tipo de distorção segundo a qual uma pessoa acredita ser capaz de ler os pensamentos de alguém. Por exemplo, quando um homem está falando com a esposa e essa boceja por estar cansada, ele pode pensar: “ela está achando chato conversar comigo”. Ele, então, pode ficar magoado e evitar sua parceira ao longo do dia. Existem inúmeras outras distorções relatadas na literatura especializada que podem ter influência sobre o relacionamento de casais (Beck, 1995; Dattilio, 2004).”

Como exemplos de distorções cognitivas mais comuns, temos: Leitura Mental, Explicações Tendenciosas, Inferência Arbitrária, Personalização e outras mais.

O casamento moderno exige o desenvolvimento de mais habilidades que antes, é preciso entre tantas coisas, saber negociar, saber aceitar. Antigamente, a sociedade não exigia isso. Na maioria das vezes o homem tomava decisões e a mulher acatava. Hoje trabalhamos para que ambos tenham os mesmos direitos e compartilhem os deveres.

Nesse sentido, também se torna importante entender os sonhos, os anseios de cada um e como é que isso pode conviver com a estrutura do casamento – uma relação em que o grau de importância de cada coisa, em cada área pode ser diferente para um e que olhar para isso seja uma oportunidade de crescimento ou gerador de sofrimento.

Mas o casamento é uma parceria. É de responsabilidade das pessoas envolvidas na relação. É um lugar onde um ajuda o outro em suas conquistas. Cabe uma questão, que cada um precisa se fazer: Essa relação me torna uma pessoa melhor?

Nossos defeitos e qualidades ficam escancarados. Já descobrimos que a pessoa não é perfeita e que uma busca desenfreada por perfeição pode não ajudar muito, já que pessoas diferentes têm necessidades, posturas, valores diferentes também.

Seria interessante pensar se você estaria supervalorizando uma característica que considera ruim e com isso transformando um relacionamento que tem tudo para ser bacana em um campo de batalha?

Sendo assim, você acaba por dar mais atenção ao que não gosta do que aos pontos positivos dessa relação, o que também causa desajuste, brigas, desgastes, distanciamentos, rompimentos – que poderiam ser evitados com uma boa conversa e inclusive, com psicoterapia.

Costumo auxiliar que os casais em terapia de casal consigam fazer uma separação em relação àquilo que é pontual e o que é corriqueiro, para que não exagerem gastando energia em pontos que não são tão importantes e trabalhem naquilo que é de fato relevante, no que é um problema real e precisa de atenção.

É claro que isso é decidido por quem se sente afetado. Mas é decido a partir de uma reflexão. Nenhum comportamento que seja abusivo, violento, desrespeitoso pode ser ignorado. Mas de repente, os pingos brancos de pasta de dente no espelho podem ser facilmente resolvidos se outras questões mais profundas forem tratadas.

Não é incomum um dos pares ter a queixa de se sentir desvalorizado. Como se a outra pessoa estivesse sempre pronta a apontar seus erros mas, com pouca ou nenhuma frequência lançar um elogio que poderia ser acolhido como reconhecimento, carinho, atenção.

Vale a pena agir com generosidade, elogiar os pequenos feitos, as pequenas conquistas. O mundo já é duro demais, cobra demais. Fazer do lar uma extensão disso torna complicado sentir acolhimento, amor e se engajar na tarefa de construir juntos uma relação harmoniosa e feliz.

Afinal de contas, o reforço positivo possibilita um interessante ganha-ganha: parceiro ou parceira feliz, percebendo que recebe validação e reconhecimento vai zelar para manter bons comportamentos. Nessa condição, todos ganham.

A terapia de casal também é uma forma de acolhimento da dor. Talvez a dor de uma das pessoas da relação, a dor dos dois, a dor dos filhos, a dor compartilhada. Talvez a dor do medo. Medo de ser feliz, medo de decidir, medo de seguir em frente... A dor de olhar e ver aquele sonho de felizes para sempre se tornar um sonho ruim...

Recorrendo mais uma vez a Gary Chapman, vemos que: “Cada um de nós chega ao casamento com diferentes histórias e personalidades. Levamos nossas bagagens emocionais para nossos relacionamentos conjugais. Cada um chega com expectativas diferentes, com diversos enfoques das situações e muitas opiniões sobre o que realmente importa na vida. Em um casamento saudável essa variedade de perspectivas deve ser harmonizada. Não precisamos concordar com tudo mas, devemos achar uma forma de lidar com cada uma de nossas diferenças de forma que elas não se tornem fatores de separação.” (pág. 148)

Boa parte das brigas de um casal acontecem por falta de alinhar quais as expectativas que cada um tem sobre o casamento. Mas, de onde surgem essa expectativas? Da história de vida de cada um, da forma como lidam com os estereótipos de gênero, por exemplo.

O que cada um espera do outro fica pairando no ar como se houvesse a obrigação de saber. Como se houvesse a obrigação de pactuar com essa expectativa – o que é ainda mais desconcertante. Pois muitas vezes o que o outro espera, pode ser algo que te avilte ou viole – e isso não é saudável.

Fazer o possível para que o outro se sinta satisfeito vai colocar em cena os valores, as crenças, a auto empatia, a empatia, a autoestima que darão a noção de limite, que faz tornar possível estabelecer até onde se pode ir e até onde se permite que alguém chegue. Aí entra o papel importante da comunicação, que vai auxiliar na compreensão e nas tomadas de decisões que levem em conta as individualidades envolvidas.

Uma boa comunicação no casamento nem sempre é uma tarefa fácil de ser conquistada. Vai aplicação, esforço, disponibilidade para ouvir, assertividade para se posicionar e lidar com os sentimentos que a conversa inspira, habilidade para regular as emoções, disposição para ouvir o que desagrada, vontade de fazer dar certo. Enfim, escutar com atenção e respeito – assim também se demonstra o amor. Que requer, ainda, boas doses de confiança, coragem e encorajamento.

Para refletir um pouco mais sobre a importância da comunicação você pode acessar: Artigo: A Gente Fala a Gente se Entende

Ok, psi! Já que falou em regulação emocional, como podemos entender os rompantes de raiva que surgem em algumas conversas?

Vamos lá! Muitas vezes ela surge pelo fato de não nos sentirmos validados ou compreendidos; outras vezes pelo estresse e esgotamento; ou ainda, quando nos sentimos frustrados; quando nos damos razão por algo e nos achamos no direito de tirar a razão da outra parte.

Greenberger e Padesky nos explicam que: “... a raiva tem mais probabilidade de emergir em relacionamentos íntimos. A raiva raramente é mais intensa do que quando é experimentada com alguém com quem estamos em contato muito próximo, seja essa pessoa um parceiro amoroso ou um colega de trabalho. A ligação entre raiva e intimidade pode ser compreendida com maior precisão se reconhecemos que cada um de nós tem diversas expectativas em relação a nossas amizades, relações amorosas, parcerias de trabalho, etc. É menos provável que tenhamos expectativas pessoais específicas em relação a pessoas que encontramos casualmente. É raro sentirmos raiva intensa de um vendedor de loja, porque nossas expectativas quanto a esse tipo de relação são muito baixas. Quanto mais próxima a relação com alguém, provavelmente mais expectativas teremos. Para complicar o quadro, muitas vezes só falamos para a pessoa as nossas expectativas, ou até mesmo só tomamos consciência delas, depois que são frustradas. Então, nos sentimos machucados, decepcionados e frequentemente com raiva.” (pág. 251)

A raiva é uma emoção básica e tem a função de informar algo a nosso respeito. Pode ser perigosa ou pode servir como um impulso, nos dando energia para tomar uma atitude quando há algo de errado. Apesar disso, normalmente está mais associada a um contexto disfuncional, onde causa uma repercussão negativa.

“A raiva tem sido muito estudada nos últimos tempos principalmente por acarretar grandes problemas no campo social, além do impacto que tem na saúde. No campo social a raiva aparece muito associada a relacionamentos conturbados, violência na família, altos índices de divórcio e perda de emprego. Já no que se refere à saúde, ela é um fator de risco para depressão, doença coronariana, úlceras, morte prematura e suicídio (Lipp, 2005).”

Aprender a lidar com as frustrações, com a raiva, regular a emoção através da Terapia Cognitiva Comportamental consiste em buscar estratégias para manejar as emoções. Essas estratégias podem ser: treino assertivo, imaginação, uso do registro de pensamentos para testar pensamentos de raiva, reconhecer sinais da raiva, planejar respostas adaptativas para situações de raiva, mindfulness, perdão. E você pode aprender e testar as técnicas que são mais eficazes para você com a ajuda da psicóloga.

Resistência à mudança: tendemos a buscar manter a homeostase e cada situação nova pode exigir um movimento de reorganizar-se. Nesse sentido, é possível que o casal ou um dos membros da relação perceba a possibilidade de iniciar uma terapia para casais como uma ameaça. Algumas vezes uma pessoa vai fazendo diversas tentativas para efetivar as mudanças demandadas pelo outro, sem procurar ajuda terapêutica. E de fato, há muitas coisas que podemos resolver sem fazer terapia. No entanto, há outras em que a terapia de casal é a melhor ferramenta, e entrar num processo evitativo só pode significar mais tempo de sofrimento.

Iniciar a terapia, entender o padrão relacional, as angústias, medos, vulnerabilidades de cada um são passos importantes para auxiliar o casal na execução de seus objetivos. Quando eles decidem se lançar a esse desafio mesmo com dificuldades, começa a se construir o espaço para que mudanças importantes ocorram para a constituição de uma conjugalidade saudável.

Infidelidade: Essa é uma questão que vem permeada por questões morais. Mas na verdade, cada pessoa e cada casal tem sua própria concepção de como atravessar uma situação com infidelidade envolvida.

Não se assuste! O mundo é composto por várias possibilidades, por diferentes culturas. Cada um de nós tem um modo muito peculiar de ser e por isso, é importante compreender o que significa para você e para a sua relação – e nisso a psicoterapia tem muito a contribuir. É através dela que se dá o autoconhecimento que te ajudará a tomar as decisões que precisa e fazer suas escolhas – inclusive nas situações adversas.

“Alguns casais e terapeutas acreditam que, quando existe a infidelidade, o relacionamento está condenado. Isso não precisa ser verdade, embora ocasionalmente um caso extra conjugal realmente sinalize o final do relacionamento. A tarefa mais importante para um terapeuta, quando um romance fora do casamento é revelado, é descobrir o significado deste outro relacionamento para o indivíduo que o mantém e para o relacionamento primário.” (Dattilio e Padesky, pág. 99)

Pode tratar-se de uma insatisfação, de uma educação machista, necessidade de satisfazer todas as próprias vontades sem considerar o contrato do casamento, ilusões românticas acerca dos envolvimentos... é preciso falar sobre isso.

E aqui também vale pontuar a responsabilidade emocional, e a necessidade, pela própria relação entre ação e consequência, de lidar com o resultado de tal atitude. De lidar com o desconforto, com a necessidade do perdão, com a dor em si. Pode resultar em uma separação ou não.

Duas questões que podem ser colocadas:

• O que essa infidelidade revela?

• Com o que essa pessoa ou esse casal não está lidando?

Sexo: A falta de interesse ou desejo sexual é outro tópico comum nas queixas dos casais. Porém, se esquece que o desejo sexual está totalmente relacionado com todas as outras áreas da vida de um indivíduo. O estresse, a insatisfação, a insegurança, a baixa autoestima podem ser responsáveis pela diminuição da líbido.

Esse também é um outro ponto em que as mulheres foram muito vitimizadas pelo machismo, e por isso, fez com que muitas vezes não demonstrassem todo seu erotismo. Será que esse é um ponto a ser melhorado na relação? Será que o homem dá atenção para a forma como sua mulher sente atração e prazer?

O casal, passado o período de paixão, tem conversado sobre seus desejos e necessidades? Qual é o lugar do erótico e da sedução na vida desse casal? Cada um se preocupa apenas em satisfazer os próprios desejos ou se importam com as necessidades e vontades de seus parceiros e parceiras? As cobranças da rotina, atravessam o casal de que forma? A chegada de filhos alterou o estilo sexual do casal? Qual a forma criativa para lidar com isso?

Com o passar do tempo, o sexo pode não ter mais a mesma intensidade, mas pode ganhar um aspecto lúdico e recreativo. Importa que falem sobre as expectativas e frustrações para que possam desenvolver maneiras interessantes para lidar com essa área.

Finalizando, esse texto traz diversos pontos do relacionamento a dois e provoca o leitor a pensar nas possíveis soluções para lidar com seus desafios.

De forma alguma esgota os problemas e possibilidades, mas ajuda a pensar em como a terapia de casal, com base na Terapia Cognitiva Com Casais pode ser um instrumento eficiente para lidar com essa área da vida.

Cuidar do que é importante na vida, ajudar a evitar ou minimizar situações estressantes. Desse modo, tomar a responsabilidade e convidar a parceira ou parceiro para buscar soluções é altamente adaptativo.

Lembro que nenhum relacionamento é responsabilidade de uma só pessoa, mas é preciso que cada uma delas faça sua parte.

Agende um horário e vamos conversar mais sobre isso!



Referências:
CHAPMAN, Gary: As cinco linguagens o amor. Ed. MC, 3 edição, 2013.
DATTILIO, F. M. & PADESKY, C. A.: Terapia Cognitiva com Casais. Ed. Artmed, 1995.
GIBRAN, Kalil: O Profeta. Ed. Planeta, 2019.
GREENBERGER, Dennis & PADESKY, Christine A.: A mente vencendo o humor. Ed. Artmed, Ed. 2, 2017.
RISO, Walter: Amar ou depender? – Como superar a dependência afetiva e fazer do amor uma experiência plena e saudável. Ed. L&PM, 2009.

1 http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-55452009000200004; Acesso em 02/12/2021.
2 http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872008000100009; Acesso em 09/12/2021.


Psicóloga Beatriz de Paula
Pós-graduada em Terapia Cognitivo-Comportamental
Especialista em Sexualidade e Saúde
Terapia presencial para adultos e casais em Campinas
Terapia online para adultos e casais de onde você estiver
CRP: 06/76470


PS: Um texto pode te inspirar, mas não substitui a consulta com a psicóloga.