post-image

A gente fala. A gente se entende.

A verdade é que algumas vezes temos dificuldade para entender que um momento ruim ou uma situação ruim não significa que tudo esteve, está e estará sempre ruim. E um dos motivos para não entendermos é, talvez, porque não paramos para pensar sobre isso.

Temos uma tendência muito grande às distorções cognitivas – o que nos ofusca a percepção da realidade como ela de fato se apresenta – e isso é ruim em situações normais. Agora imagina durante uma pandemia.

Para o dia a dia de um casal que nesse mais de um ano de pandemia precisou lidar com mais situações adversas – já que mesmo em relacionamentos considerados estáveis, o confinamento trouxe desafios – a compreensão, a regulação emocional, a tolerância e sobretudo, a comunicação foram muito requisitados.

Num momento disfuncional alguns comportamentos podem ficar muito acentuados e dificultar a aproximação e a abertura para um diálogo mais saudável.

“Gottman e Silver (2015) destacam que, além da dificuldade na comunicação, o casal pode utilizar um vasto repertório de comportamentos que prejudicam o casamento. Os autores mencionam as seguintes estratégias de enfrentamento que dificultam: afastar-se do(a) parceiro(a), juntar-se a um familiar contra o(a) parceiro(a), desrespeitar, quebrar promessas importantes, fugir/esquivar-se de resolver problemas, criticar, desprezar, comportar-se com defensividade, obstruir a comunicação (bloquear o outro), vivenciar memórias negativas (de situações mal resolvidas), envergonhar o outro, utilizar de sarcasmos exagerados e zombarias, rispidez, hostilidade e provocações. A utilização desses comportamentos tende a predizer a insatisfação com a relação conjugal e tende a resultar na dissolução do vínculo conjugal.” ¹

Se não podemos viver sem problemas, o que podemos fazer é não piorar ainda mais a situação quando eles nos aparecem. E isso demanda “não ir deixando para lá” aquilo que você já identificou como sendo uma erva daninha dentro da sua casa, dentro da sua cabeça, dentro da cabeça do outro.

Talvez seja um bom momento para lembrar o que faz vocês serem pessoas melhores quando estão juntos. O que sustenta essa união? Qual o motivo que torna válido passar pela turbulência juntos? O que vocês podem aprender agora que fará diferença na vida de vocês? Como driblar o medo, a insegurança e o estresse e fortalecer o relacionamento? Estão usando a criatividade para construírem mais momentos de prazer? Já parou para agradecer à ela ou à ele por estar contigo atravessando esse momento?

E como é que vai mudar isso sem comunicação?

Pode ser que o que esteja faltando seja apenas uma alinhamento. De expectativas, por exemplo. Talvez esteja faltando compreensão. O outro é diferente de você e para compreende-lo é preciso parar e ouvi-lo com cuidado, com empatia.

E se isso começar por você? Escute o que está pensando. Perceba o que está sentindo. Esses pensamentos e sentimentos são resultados de quê? Se escutando você vai entender alguma coisa. Nem que seja que você não está entendendo nada, que está desafiador, que está confusa ou confuso, que não sabe como comunicar para o outro o que está se passando.

Depois disso, é aceitar que alguns comportamentos fazem parte de um repertório disfuncional e que contribuem para o aumento do estresse diário, sendo necessário buscar as alternativas para lidar e resolver. Esse é um trabalho a ser realizado em conjunto. Hoje é muito fácil encontrar psicólogas(os) que atendem casais e famílias. Existem muitos casais que estão se beneficiando desse recurso. Pode servir para vocês também.

“... Além disso, os casais estressados têm maior possibilidade de retribuir de maneira pouco produtiva, o que resultaria em um momento do conflito e do estresse. Consequentemente, uma premissa básica da TCC é que a frequência do comportamento indesejável deve ser reduzida, e a frequência de mais comportamentos produtivos deve ser aumentada. Como o comportamento indesejável tende a ter um impacto maior na satisfação no relacionamento do que o comportamento produtivo (Gottman, 1994; Weiss e Heyman, 1997), ele tem recebido mais atenção dos terapeutas. Embora este seja um conceito básico, não obstante é muito importante porque cada parceiro em um casal em geral busca interações produtivas para satisfazer suas próprias necessidades...” ²

Sentir-se atendido(a), amparado(a), amado(a), respeitado(a) traz conforto e segurança. A casa não precise ser um ringue e nem um campo de batalha. Há de ser o lugar onde você se sente protegida(o) e feliz. Para tal falem. Falando haverão de entender.


Fonte de pesquisa e créditos:
1 http://pepsic.bvsalud.org/pdf/penf/v22n2/v22n2a12.pdf. Acesso em: agosto de 2021.

2 DATTILIO, F. M., Manual de Terapia Cognitivo-Comportamental para casais e famílias. Artmed, 2011, p. 46


Beatriz de Paula
Psicóloga - CRP: 06/76470
Coach de Performance Comportamental
Atendimento presencial e online para adultos e casais
Instagram: @psicologabeatrizdepaula
Web: www.psicologiaemcampinas.com.br


PS: Nenhum texto substitui a consulta com a psicóloga.