“Se não temos uma receita para a felicidade, podemos prestar atenção na receita e nos ingredientes que utilizamos em nossa própria receita de infelicidade. Se não sabemos o que fazer para melhorar uma situação, será que sabemos o que fazer para mantê-la igual ou para ela piorar?”
(Mazer, Thelma Z., pág. 132)
A verdade é que algumas vezes temos dificuldade para entender que um momento ruim ou uma situação ruim não significa que tudo esteve, está e estará sempre ruim. E um dos motivos para não entendermos é, talvez, porque não paramos para pensar sobre isso. Também temos dificuldades para fazer um julgamento preciso sobre o peso das próprias atitudes que contribuem para a desarmonia do casal. Muitas vezes a questão é simples, mas é bem comum não se ter clareza ou não ter consideração e empatia para ponderar não como me sinto, mas como a outra pessoa se sente diante de algumas situações, falas, comportamentos. Ponto fundamental quando se deseja cuidar do contrato da relação para uma manutenção positiva da conjugalidade.
Temos uma tendência muito grande às distorções cognitivas – o que nos ofusca a percepção da realidade como ela de fato se apresenta – e isso é ruim em situações normais. Consegue imaginar como fica em situações disfuncionais? Como ficar nossa percepção em um cenário de brigas, desacordos, afastamento, desconexão? Como questões como problemas no trabalho, com a família de origem, por exemplo, são assimiladas e tratadas pelo casal? Fica claro o quanto a qualidade da comunicação pode fazer diferença. Além dela, a capacidade de regulação emocional, a tolerância e a flexibilidade também são bastante requisitadas.
Num momento disfuncional alguns comportamentos podem ficar muito acentuados e dificultar a aproximação e a abertura para um diálogo mais saudável. As “brincadeirinhas” se tornam mais ácidas, o cuidado diminui, a frequência sexual se torna rara e nem sempre prazerosa.
“Gottman e Silver (2015) destacam que, além da dificuldade na comunicação, o casal pode utilizar um vasto repertório de comportamentos que prejudicam o casamento. Os autores mencionam as seguintes estratégias de enfrentamento que dificultam: afastar-se do(a) parceiro(a), juntar-se a um familiar contra o(a) parceiro(a), desrespeitar, quebrar promessas importantes, fugir/esquivar-se de resolver problemas, criticar, desprezar, comportar-se com defensividade, obstruir a comunicação (bloquear o outro), vivenciar memórias negativas (de situações mal resolvidas), envergonhar o outro, utilizar de sarcasmos exagerados e zombarias, rispidez, hostilidade e provocações. A utilização desses comportamentos tende a predizer a insatisfação com a relação conjugal e tende a resultar na dissolução do vínculo conjugal.” ¹
Se não podemos viver sem problemas, o que podemos fazer é não piorar ainda mais a situação quando eles nos aparecem. E isso demanda “não ir deixando para lá” aquilo que você já identificou como sendo uma erva daninha dentro da sua casa, dentro da sua cabeça, dentro da cabeça do outro.
Talvez seja um bom momento para lembrar o que faz vocês serem pessoas melhores quando estão juntos. O que sustenta essa união? Qual o motivo que torna válido passar pela turbulência juntos? O que vocês podem aprender agora que fará diferença na vida de vocês? Como driblar o medo, a insegurança e o estresse e fortalecer o relacionamento? Estão usando a criatividade para construírem mais momentos de prazer? Já parou para agradecer à ela ou à ele por estar contigo atravessando esse momento? Já reavaliaram os sonhos e planos para esse momento da vida? A gente cresce, amadurece, muda, e talvez isso traga a necessidade de reavaliar alguns pontos. E como é que vai mudar isso sem comunicação?
Pode ser que esteja faltando apenas um alinhamento. Alinhamento de expectativas, por exemplo. Talvez esteja faltando compreensão. O outro é diferente de você e para compreendê-lo é preciso parar e ouvi-lo com cuidado, com empatia.
E se isso começar por você? Escute o que está pensando. Perceba o que está sentindo. Esses pensamentos e sentimentos são resultados de quê? Ao se escutar você vai entender alguma coisa. Nem que seja que você não está entendendo nada, que está desafiador, que está confusa ou confuso, que não sabe como comunicar para o outro o que está se passando.
Depois disso, é aceitar que alguns comportamentos fazem parte de um repertório disfuncional e que contribuem para o aumento do estresse diário, sendo necessário buscar as alternativas para lidar e resolver. Quais ferramentas você tem para lidar com coisas que talvez nunca tenha lidado? Como comunicar para sua parceira ou parceiro o que está sentindo com clareza e segurança, sem medo de se admitir vulnerável? Esse é um trabalho a ser realizado em conjunto. Hoje é muito fácil encontrar psicólogas(os) que atendem casais e famílias. Existem muitos casais que estão se beneficiando desse recurso. Pode servir para vocês também. Eu atendo casais com diversas demandas, posso afirmar que a terapia para casais é um recurso incrível e muito útil para prover aos casais as ferramentas necessárias para construírem uma relação mais saudável e adaptativa, ou ainda a cuidarem da manutenção da relação. Decisões sobre filho (a), carreira, por exemplo, podem criar ruídos que os casais não saberão lidar sozinhos, mas com ajuda conseguirão se posicionar, tomar decisões.
“... Além disso, os casais estressados têm maior possibilidade de retribuir de maneira pouco produtiva, o que resultaria em um aumento do conflito e do estresse. Consequentemente, uma premissa básica da TCC é que a frequência do comportamento indesejável deve ser reduzida, e a frequência de mais comportamentos produtivos deve ser aumentada. Como o comportamento indesejável tende a ter um impacto maior na satisfação no relacionamento do que o comportamento produtivo (Gottman, 1994; Weiss e Heyman, 1997), ele tem recebido mais atenção dos terapeutas. Embora este seja um conceito básico, não obstante é muito importante porque cada parceiro em um casal em geral busca interações produtivas para satisfazer suas próprias necessidades...” ²
Sentir-se atendido(a), amparado(a), amado(a), respeitado(a) traz conforto e segurança. A casa não precisa ser um ringue e nem um campo de batalha. Há de ser o lugar onde você se sente protegida(o) e feliz. Para conseguir esse resultado, falem. Falando haverão de entender. E contem comigo para essa empreitada.
Fonte de pesquisa e créditos:
1 http://pepsic.bvsalud.org; Acesso em: Acesso em: agosto de 2021.2 DATTILIO, F. M., Manual de Terapia Cognitivo-Comportamental para casais e famílias. Artmed, 2011, p. 46.
3 MAZER, Thelma Zugman, Metáforas na Terapia de Casal: impasses e impactos. Belo Horizonte: Artesã, 2021.
Psicóloga Beatriz de Paula
Pós-graduada em Terapia Cognitivo-Comportamental
Especialista em Sexualidade e Saúde
Terapia presencial para adultos e casais em Campinas
Terapia online para adultos e casais de onde você estiver
CRP: 06/76470
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PS: Um texto pode te inspirar, mas não substitui a consulta com a psicóloga.