“Você não vai receber outra vida como esta. Você nunca mais vivenciará o mundo exatamente desta maneira, com esses pais, filhos, familiares e amigos. Nem experimentará a terra com todas as suas maravilhas novamente neste período da história. Não espere o momento em que desejará dar uma última olhada no oceano, no céu, nas estrelas ou nas pessoas queridas. Vá olhar agora.”
Elisabeth Kubler-Ross
Você já se deu conta de que a melhor maneira de refletirmos sobre a morte é refletindo sobre a vida? Quando perdemos, em definitivo, alguém que amamos, nos damos conta do quanto a vida é passageira. E isso não se dá racionalmente. A gente sente. Aquele sorriso divertido ou caloroso... parece que foi ontem. E aquela alegria compartilhada? O abraço apertado, o beijo carinhoso, o cheiro inconfundível, a vibração por uma conquista, o olhar. Ah! O olhar... E aquela discussão que virou briga? Pura bobagem. Ou não. O ranço? A raiva? A inutilidade do rancor... Tudo fica parado em algum lugar do tempo. A gente deseja ser viajante do tempo.
”A morte nos é conhecida simplesmente como um fim e nada mais. E o ponto final que se coloca muitas vezes antes mesmo de encerrar-se o período, e depois dela só existem recordações e efeitos subsequente, nos outros. Mas para o interessado a areia escoou-se na ampulheta; a pedra que rolava chegou ao estado de repouso. Em confronto com a morte, a vida nos parece sempre como um fluir constante, como a marcha de um relógio a que se deu corda e cuja parada afinal é automaticamente esperada.
Nunca estamos tão convencidos desta marcha inexorável do que quando vemos uma vida humana chegar ao fim, e nunca a questão do sentido e do valor da vida se torna mais premente e mais dolorosa do que quando vemos o último alento abandonar um corpo que a pouco vivia (JUNG, 2013, p. 796).”
A morte faz parte do nosso ciclo de vida e são inúmeras as questões que se colocam diante dela. Questões que variam de acordo com o momento da vida e com as crenças de cada pessoa. Será que há alguma outra maneira de se preparar para uma “boa morte”, que não seja vivendo uma “boa vida”? Mas o que pode ser considerado viver uma boa vida? O que eu posso fazer para sentir a vida e viver em plenitude? E o que faço com os momentos que não foram vividos ao lado da pessoa que se foi? O que teria sido viver uma boa vida com ela?
A vida compartilhada com essa pessoa foi boa. Você queria ter mais. Mas teve o que foi possível. E daqui a algum tempo, a dor dará espaço para as lembranças bonitas. E você irá sorrir ao lembrar. Você irá sorrir e sentir o quentinho no coração. O que a gente sente transcende o tempo. Viver bem talvez seja, então, encher o coração com as coisas boas.
Não podemos dizer que somos, em geral, bem preparados para lidar com essa situação. Há tempos atrás era um assunto velado. Na contemporaneidade com o ritmo de vida que temos, com a necessidade de prazeres instantâneos que no facilite lidar com a dureza de alguns dias, a negação ou dificuldade de lidar com a tristeza ou a dor emocional - somos assaltados diariamente por notícias de mortes. Pessoas próximas ou não. Vítimas de violência, doença fatal ou morte natural. De uma forma ou de outra, ela se faz presente e sempre deixa dor e fases de luto para serem vividas e superadas. Temos consciência de nossa finitude, apenas nem sempre lidamos com isso. Não falamos. Procuramos sequer pensar.
“A morte é um acontecimento que faz parte do desenvolvimento e está presente no cotidiano de todos (COMBINATO; QUEIROZ, 2005), porém está inserida em um contexto sócio histórico de negação (QUINTANA; ARPINI, 2002). Vários são os motivos para tal negação. Segundo Bellato e Carvalho (2005) através dos novos conhecimentos e técnicas adquiridos, a medicina busca ludibriar a morte, sendo considerado um fato natural somente na velhice. O modo como a nossa finitude foi e é encarada pelo homem ao longo do tempo é o tema de um estudo realizado por Araújo e Vieira (2001), no qual as autoras relatam que na Antiguidade, a morte era tratada com certo romantismo, embora os mortos fossem temidos e se procurava mantê-los afastados. Já na Idade Média, o homem convivia de forma mais harmoniosa com a morte, sem grandes temores e era permitido que as crianças participassem dos seus rituais. Por fim, nos tempos modernos, a morte passou a ser negada e a ser vista como representação de fracasso e interrupção nos projetos de vida.”
A Psicologia é Ciência que lida com as emoções humanas e cuida das pessoas. Nesse contexto, é inevitável trabalhar com o tema morte. Nesse sentido, pode auxiliar que o indivíduo compreenda e lide com sua subjetividade acerca do tema, que lide com o luto que pode se desenrolar de forma patológica, ou seja, um luto que não encontra fim e que impede que a pessoa tenha uma vida com qualidade.
Tendo em vista esse cenário de pandemia que já vivemos há quase um ano e a sabida impossibilidade de muitos familiares seguirem seus ritos para enterrarem seus mortos, o processo de ressignificação da vida para além da perda pode vir a ser ainda mais desafiador. É um vínculo que se perde, onde há sentimentos, sonhos, planos envolvidos.
Cada pessoa vivencia o luto de maneira singular. Nesse campo também não se pode haver comparações. O que as pessoas precisam de fato, tendo que lidar com a possibilidade de morte próxima ou estando enlutada é de muito respeito e acolhimento. Precisa ser tratada com humanidade.
Expressar a dor é saudável. Retomar a vida, também é.
Mas antes de tudo isso, voltando ao fragmento da Dra. Ross, vale lembrar que mesmo que você não possa estar fisicamente presente com as pessoas, você pode fazer um telefonema, uma chamada de vídeo. Oferecer acolhimento e amor para que ninguém se sinta sozinha/o diante da insegurança e do medo de não voltar para a casa curado, ou àquelas que estão sofrendo suas perdas.
Se desejar terapia para casais em Campinas, terapia para adultos em Campinas, terapia para adolescentes em Campinas, acesse o link de contato para tirar dúvidas e agendar o atendimento.
Vou deixar também a sugestão de um livro que pode ajudar a refletir sobre o tema abordado nesse texto:
Livro: A morte é um dia que vale a pena viver
2 https://pepsic.bvsalud.org; Acesso em: janeiro de 2021.
Psicóloga Beatriz de Paula
Pós-graduada em Terapia Cognitivo-Comportamental
Especialista em Sexualidade e Saúde
Terapia presencial para adultos e casais em Campinas
Terapia online para adultos e casais de onde você estiver
CRP: 06/76470
PS: Um texto pode te inspirar, mas não substitui a consulta com a psicóloga.