post-image

Introdução alimentar e questões emocionais

Durante toda a nossa vida, o alimento é essencial para a nossa sobrevivência. Pensar na alimentação como forma de nutrir nos remete também à importância de nutrir mentalmente, possibilitando à criança o desenvolvimento de todas as suas capacidades e potencialidades.

Ainda no útero, o bebê recebe alimento direto do cordão umbilical e com isso pode receber também o carinho e a fala da mãe, iniciando a construção de amor e de um vínculo, que assim como o alimento, também é essencial na qualidade do desenvolvimento humano.

Após o nascimento, vem o leite, seja através do aleitamento materno ou mamadeira, mas unido ao aconchego do colo, o contato com a pele, cheiro, sons e troca de olhares com a mãe, que pode ampará-lo e proporcionar-lhe segurança.

Depois, o carinho e a intimidade construídos na amamentação passam a adentrar na preparação dos alimentos sólidos. Não somente as mães, mas pais, avós e outras pessoas, que estão diretamente envolvidos nos cuidados com os bebês, por vezes se sentem ansiosos nessa fase, com diversas preocupações, tais como: se o filho vai gostar dos alimentos oferecidos, se vão ser supridas suas necessidades nutricionais ou se vão continuar ganhando peso de acordo com o esperado para a idade.

A introdução alimentar mostra ao bebê e sua mãe que existem outras fontes de segurança, carinho e isso é um momento novo na vida dos dois.

O bebê se depara com a exigência de fazer um esforço maior, pois agora vem a mastigação e não somente o sugar. A apresentação dos alimentos agora é bem diferente: não apenas o líquido vindo do seio ou da mamadeira, mas uma fruta, uma sopinha colorida com diversos legumes, em variadas consistências, conforme as capacidades adquiridas pelo bebê.

Essa nova realidade, sendo sentida como uma ruptura da relação que até então era tão simbiótica. E nesse momento, é importante que o pai ou outras pessoas estejam envolvidas, de forma que a criança e a mãe compreendam que para se desenvolver emocionalmente saudável é necessário sair da simbiose.

A relação com o alimento diz muito sobre quem somos. Uma criança prova tudo devagarinho, se recusa, é voraz? Isso reflete a forma como está conseguindo compreender o mundo que a cerca e como se sente e lida com os relacionamentos e interações com as pessoas.

Ansiedades, inseguranças, surpresas em relação ao que seu comportamento diante do alimento pode provocar as pessoas ao redor: ficarão felizes se ela come toda a comida? irão repreendê-la se derramam a comida no chão? expressarão preocupação se não come o que lhe foi preparado?

Dessa forma, é essencial olhar para a introdução alimentar não apenas na ótica do novo alimento, mas também o quanto isso faz parte de todo um processo emocional que está sendo desenvolvido na criança e nas relações com as pessoas ao redor.


Referências bibliográficas:
DE FELICE, Eliana Marcello. A formação da personalidade: crianças de 1 a 5 anos. São Paulo: Idéias & Letras, 2013.
WINNICOTT, D.W. Os bebês e suas mães. 4. ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012.


Silvia Maria Gomes Gonçalves
Psicóloga/ CRP 06/76458
Pós-graduada em Saúde Mental, com ênfase na infância e adolescência.
Responsável pelo Projeto Primeiros Olhares: cuidando do desenvolvimento emocional de 0 a 3 anos de idade.
Fundadora do Grupo de Apoio a Adoção Laços de Amor, de Mogi Guaçu/SP.
Atendimento presencial e on-line.
Instagram: @silviamariaggoncalves; @clinicavitari
Contato: (19) 9 8219 7110


PS: Nenhum texto substitui a consulta com a psicóloga.