A gravidez é um período de grandes mudanças físicas e emocionais na vida de uma mulher, de um homem, da família.
Na nossa sociedade é visto como momento glamoroso, único na vida da mulher, e alguns comportamentos que acompanham este período são vistos como pequenos detalhes e desprovidos de sentido, ou seja, “frescura de grávida”; “gravidez não é doença. Gravidez não é doença, mas acarreta grandes mudanças no corpo e na mente da mulher.
Cada gestação é sentida de uma maneira diferente, de forma única, pois nenhuma mulher sente os mesmos sintomas igual a outra.
A primeira emoção que a mulher sente é quando tem resultado do positivo para gravidez. Sendo gravidez desejada, planejada ou não, o sentimento de ambivalência se faz presente, porque se confirma o ato da fecundação, “aconteceu mesmo!”. É uma ambivalência natural, não tem nada a ver com rejeição à gravidez, é um medo inicial pelo que vem pela frente.
E a mulher tem os nove meses para se preparar emocionalmente para a nova fase da sua vida.
O corpo vai mudando, vai se ajeitando para receber e acolher o feto em desenvolvimento. E o emocional também precisa abrir espaço para esse bebê existir dentro da mente da mãe.
E como se faz isso? O vínculo com o bebê começa desde a barriga, quando a mulher conversa com o bebê, acaricia a barriga, dá-lhe um nome. É preciso que a mulher se conecte a própria gravidez, ao que está acontecendo com ela, com seu corpo, com o ser que está em desenvolvimento dentro dela.
O período gestacional é composto de três trimestres que envolvem mudanças corporais grandes e isso mobiliza emoções nesta mulher. A mudança física é a mais visível, desconfortos, incômodos, mas um prazer também descoberto e sentido ao acompanhar crescimento do bebê, quando ela sente o bebê mexer, etc.
A mudança interna aparece de outras formas: mudança de humor, comportamento, uma certa irritabilidade, choro fácil, medo, insegurança, que aparecem em atos, falas soltas que precisam ser ouvidas com atenção e cuidado, até a falta de vínculo com a gravidez, quando a mulher não se refere ao bebê, “não lembra que está grávida”.
Mas toda essa experiência é muito singular. Cada gravidez traz uma história cheia de sentidos, e que traz uma criança ao mundo.
“Esse privilégio que é o de dar a vida, levá-la em si, de sentir evoluir, e de levá-la a seu termo, se faz acompanhar de uma carga que, embora não possa ser medida por balança, possui um peso: o dos sentidos múltiplos e contraditórios que teceram a história da família e chegam, finalmente, ao nascimento dessa criança”. (SZEJER, Myriam, pag.37,2002)
O período gestacional ativa a história da mãe, do pai, e cada um vai entrar em contato com sua história pessoal, com seu lugar de filho na sua família de origem, com as figuras parentais e cada um sentirá e reagirá de uma forma diferente a mudança no seu papel.
Numa sociedade que julga a mãe por tudo, onde impera a culpa, muitas mulheres podem não se sentir à vontade para falar de suas dores e dificuldades em sua gestação e nos cuidados com o bebê. Uma mãe bem nutrida emocionalmente, oferece boa nutrição emocional para seu bebê.
Por isso, é importante ter um espaço terapêutico para acolhida desta mulher, de seu parceiro e até outros familiares no intuito de dar nome aos sentimentos envolvidos neste processo de ter um filho, desmitificar conceitos, fantasias, e até reorganizar papéis das figuras parentais que os futuros pais carregam dentro de si.
O vínculo nos primeiros meses de vida é muito importante para um bom desenvolvimento emocional do bebê. E para que isso aconteça de forma saudável, a saúde mental da mãe é essencial.
A mulher precisa ser olhada com delicadeza, cuidar da saúde mental da mulher durante a gestação, perguntar como ela está, o que tem sentido, o que vem pensando, como está sua vida, seus medos, suas angústias em relação a ser mãe, suas expectativas sobre a chegada do bebê.
Portanto, um espaço para falar sobre maternidade e paternidade, que vai muito além de um gerar biológico, é muito importante. O ser humano só nasce como pessoa quando é investido por outro ser humano. E tratar destas questões ainda na gestação e período pós parto contribui para melhor desenvolvimento da criança, evitando futuros transtornos mentais que começam no início da vida e cujos sintomas despontam no decorrer do desenvolvimento.
Referências Bibliográficas:
Oliveira, Erika Parlato. “O bebê e os desafios da cultura”, 1edição, São Paulo, Instituto Langage, 2019.
Szejer, Myriam. “Nove meses na vida da mulher”, 2edição, São Paulo, Casa do Psicólogo, 1997.
Créditos das imagens:
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Graziela Cristina Pinto Telles
Psicóloga Clínica CRP 06/76412
Especialista em Saúde Mental e na Orientação da relação Pais e Bebês, Orientação e cuidados emocionais da gestante e família.
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PS: Nenhum texto substitui a consulta com a psicóloga.