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A Arte Terapia como instrumento de intervenção do Psicólogo

A arte pode ser utilizada como instrumento de mediação do trabalho do psicólogo, sendo uma forma livre de expressão sociocultural, algo que qualquer pessoa pode fazer e que remete ao ambiente pessoal do sujeito. Pode ser realizada por diferentes formas e materiais como por exemplo, com papéis, tecidos, telas, vidros, cerâmicas, utilizando lápis de cor, giz de cera, canetas ou tintas coloridas, colagens de recortes de revistas, jornais ou materiais recicláveis, esculturas de argila, bordados, tricô, crochê, dentre outros artesanatos. Enfim, existem infinitas formas de se trabalhar com arte, desde que o paciente se identifique e goste do trabalho que irá realizar.

A arte terapia possibilita que alguns pacientes como por exemplo os autistas, surdos e esquizofrênicos, dentre outros pacientes que também apresentam dificuldade em se comunicar, possam se expressar e serem compreendidos de alguma forma, o que na linguagem verbal, geralmente não conseguem. Podemos visualizar este trabalho no contexto do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), que são instituições para atendimento de pacientes com transtornos psiquiátricos; através das oficinas de arte. Tais oficinas também estão presentes em instituições que atuam na Educação Especial, como escolas e APAEs (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). E sendo essas oficinas, com a participação do psicólogo arte terapeuta, amplia o campo de trabalho e de atendimento em relação a demanda apresentada.

Assim como nas oficinas terapêuticas institucionais, o atendimento do psicólogo como arte terapeuta pode ocorrer com grupos de crianças, adolescentes, gestantes, idosos, dentre outros grupos, ou ainda de forma individual em clínicas e consultório privado. O psicólogo, durante as sessões de psicoterapia, pode propor ao paciente a escolha e o desenvolvimento de um trabalho artístico, simples e gradativo, como mais uma forma de expressão do paciente a ser observada. Esse trabalho ajuda a resgatar o autoconhecimento, a autoestima e conteúdos conscientes e inconsciente do sujeito; que serão abordados nas sessões de psicoterapia. Sempre respeitando a aptidão e o interesse de cada indivíduo para esse instrumento de atendimento.

Ao assistirmos o filme: Nise – O Coração da Loucura, podemos observar um exemplo de como a introdução da arte no trabalho do profissional da saúde, pode ser eficaz. O filme, baseado em fatos reais, conta a história da Dra. Nise da Silveira, uma psiquiatra, que assumiu uma oficina de Terapia Ocupacional, no hospital psiquiátrico onde trabalhava. A Dra. Nise, contou com o apoio de Jung, conforme cita Reis (2014 apud JUNG 1875-1961), ilustre discípulo de Freud, com quem posteriormente rompeu ao desenvolver sua própria teoria, a Psicologia analítica, foi quem propriamente começou a usar a linguagem artística associada à psicoterapia.

Para ela, a função terapêutica da arte era permitir a expressão de vivências não verbalizáveis por aqueles que se encontravam imersos no inconsciente, ou seja, em um mundo fora do alcance da elaboração racional, cabendo ao terapeuta a tarefa de estabelecer conexões entre imagens que emergem do inconsciente e a situação emocional vivida pelo indivíduo (2001, p.18). Nessa tarefa, apoiava-se sobretudo na psicologia analítica de Jung. (REIS, v.34/1, 2014, p. 4)

No contexto da psicologia, a arte não é interpretada de forma sistemática e nem preconiza métodos e técnicas artísticas, ou de pintura. Nem tampou se pretende fazer um concurso de arte. O trabalho com a arte não substitui a medicação, a psicoterapia ou o apoio familiar, mas agrega a esses suportes. Proporciona uma melhora no quadro da doença apresentada. O que é expressado através da arte, muitas vezes é o que não foi dito pelo paciente, porém, faz parte da interpretação que o psicólogo realiza no decorrer dos atendimentos. Reis (2014, v.34/1) afirma que “uma vez que geralmente as pessoas, ao iniciarem um processo psicoterapêutico, se encontram com o próprio discurso muito bloqueado devido às resistências, a arte vem a ser um canal que facilita a comunicação”.

O objetivo da arte, como instrumento de trabalho do psicólogo, é revelar o verdadeiro EU de cada indivíduo, seus conteúdos, seus sentimentos, de forma livre e espontânea, ou seja, sem nenhum tipo de direcionamento. Assim também é apresentado no filme, onde a Dra. Nise da Silveira, permite que os pacientes, cada um no seu tempo, realize a sua arte da forma que desejar.

A arte é uma forma de expressão não coloquial, que somada a observação, compreensão e interpretação da história de vida do indivíduo, serve de instrumento para ilustrar o dito ou o não dito pelo paciente, durante as sessões de atendimento do psicólogo. Deste modo, a partir de pressupostos teóricos da atuação do psicólogo e dos artifícios que este profissional pode utilizar na sua atuação, e de estudos sobre a arte como forma de expressão pessoal, pode-se entender a prática profissional diferenciada, possível e acessível. Além disso, dentre outras benfeitorias, a arte proporciona alegria, prazer e autonomia, o que remete ao consultório um ambiente agradável e divertido.

Quando o psicólogo estuda e reflete sobre sua prática profissional, pode se tornar mais dinâmico, aderindo a novas práticas e aprimorando o seu trabalhado. O que se refletirá no resultado obtido com seus pacientes, pois permite que os mesmos também possam se perceber de forma mais leve e clara, e se sintam mais confiantes em aceitar as mudanças que se fazem necessárias para tornar sua vida melhor e mais saudável.


Referências

NiSE – O Coração da Loucura. Direção: Roberto Berliner, Rio de Janeiro 2016. Cor. 109 min.

REIS, Alice Casanova dos. Arteterapia: a arte como instrumento no trabalho do Psicólogo. Psicologia Ciência e Profissão. vol.34, n. 1 Brasília Jan./Mar. 2014, p.142-157. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s1414-98932014000100011&script=sci_abstract&tlng=pt


Cristiane Machado Brites
Psicóloga Clínica e Institucional – CRP 06/76587
Abordagem: Psicanalítica
Pós-Graduação: Psicoterapia de Grupos, Casal, Família; Arte Educação e Psicologia do Trânsito
Área de atuação: Individual, grupos, casal, família; Orientação à gestante; Avaliação Psicológica; Testes Psicológicos e Arte Terapia (De 3 anos ao idoso).
Cidade onde atua: Mogi Mirim-SP, presencial e online
Instagram: cristiane.brites
WhatsApp: (19) 971 383204


PS: Nenhum texto substitui a consulta com a psicóloga.