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Psicólogo para bebês?

Essa pergunta sugere algo novo, de surpresa e de alguma curiosidade também. Durante bastante tempo acreditou-se que as crianças poderiam ser atendidas por psicólogos apenas por volta dos quatro anos de idade, devido à sua capacidade de compreensão.

Porém, existe uma variedade de estudos sobre os bebês e crianças com idade menor que quatro anos, sobre como eles têm capacidades e potencialidades, fazendo com que frases como “bebês não entendem” ou “isso é apenas uma fase” exijam de nós um olhar mais atento.

Desde a gestação, o bebê é capaz de reagir a sons e estímulos externos, de sentir os movimentos ao redor. Ao nascer, ele passa, junto com sua família, por diversas adaptações: luz, sons, cheiros e clima passam a ser diferentes das experiências que teve até então na vida intrauterina.

O bebê é visto como um ser único, que deseja interagir com os sentimentos das pessoas ao redor, consegue discriminar sons, pode compreender a linguagem afetiva que lhe é dirigida, dentre outras capacidades.

Ocorre que, em algum momento da vida desse bebê, poderão ocorrer situações com as quais ele terá dificuldades para lidar. Se isso ocorre com crianças maiores, com adolescentes, adultos, por que não ocorreria também com os bebês e com os muito pequenos?

Crises de choro inconsoláveis, recusa ao contato, falta de reação ou profundo sofrimento diante da separação de seus pais, comportamentos de birra intensos, agressividade, dificuldades em relação à alimentação ou ao sono, convívio com pais que estejam passando por dificuldades emocionais ou algum transtorno mental, dentre outras situações, podem ter uma melhora com o que denominamos Intervenções Psicoterápicas Pais/Bebê (IPPB).

As IPPB ocorrem em sessões de atendimento aos bebês juntamente com seus pais. O psicólogo, num trabalho de interpretação das situações ocorridas e seus sintomas, nomeia os sentimentos e ajuda os pais a compreenderem o significado das atitudes do bebê. Dessa forma, tanto o bebê quanto os pais podem desenvolver outras formas de se relacionar, melhorando os sintomas anteriormente apresentados.

Em geral, as IPPB têm resultado rápido, pois o bebê está num período de crescimento cerebral acelerado, no qual pode desenvolver melhor a autorregulação emocional. Trata-se de um trabalho de prevenção, priorizando a saúde mental do bebê e de seus pais, no qual são geradas novas formas de interação e internalizadas pela criança como estruturas psicológicas estáveis ao longo da vida.

Vale ressaltar que a pioneira dessas intervenções foi a psiquiatra e psicanalista Selma Fraiberg (1973). Porém, a partir da década de 1940, a Psiquiatria Infantil vinha se destacando, e já eram propostos tratamentos psicoterápicos para crianças muito pequenas.

Em termos de contribuições psicanalíticas, que sustentam esse trabalho até os dias atuais, podemos citar: Winnicott, Françoice Dolto, Esther Bick, dentre outros. Atualmente, Colwyn Trevarthen, Bernard Golse, além de outros pesquisadores, destacam as capacidades dos bebês, a consideração por sua vida psíquica e seu sofrimento.


Referências bibliográficas:

TREVARTHEN, C.; AITKEN, K. J.; GRATIER, M. O bebê: nosso professor. São Paulo: Instituto Langage, 2019.
WINNICOTT, D.W. Os bebês e suas mães. 4. ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012.
ZAVASCHI, M. L. S.; Bassols, A. M. S.; BERGMANN, D. S.; MARDINI, V. Abordagem psicodinâmica na infância. In: EIZIRIK, C. L.; AGUIAR, R. W.; SCHESTATSKY, S.S. (org.). Psicoterapia de Orientação Analítica: fundamentos teóricos e clínicos. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.



Silvia Maria Gomes Gonçalves
Psicóloga/ CRP 06/76458
Pós-graduada em Saúde Mental, com ênfase na infância e adolescência.
Responsável pelo Projeto Primeiros Olhares: cuidando do desenvolvimento emocional de 0 a 3 anos de idade.
Fundadora do Grupo de Apoio a Adoção Laços de Amor, de Mogi Guaçu/SP.
Atendimento presencial e on-line.
Instagram: @silviamariaggoncalves; @clinicavitari
Contato: (19) 9 8219 7110


PS: Nenhum texto substitui a consulta com a psicóloga.